“Herança africana no Enem é justiça histórica,” declara professora após acertar tema de redação
“Eu já imaginava que estava faltando um tema com recorte racial. A questão negra estava ausente e precisava ser abordada”, afirmou Diva Daiana, membra da Rede Nacional de Mulheres Negras no Combate à Violência
No último domingo (4) 3,9 milhões de estudantes brasileiros fizeram a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024, que trouxe como tema de redação “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. A escolha do tema surpreendeu muitos, mas não a professora e socióloga Diva Daiana, que, em aulas na plataforma Aprova Total, já havia apontado a necessidade de uma abordagem racial para a redação.
Diva, que também é suplente de vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em Curitiba e ativa militante em causas antirracistas, comentou em suas redes sociais sobre a importância do tema para a conscientização dos jovens. “A escola, muitas vezes, é um ambiente violento para a população negra, e a Lei 10.639, que completou 21 anos em 2024, ainda não é aplicada e fiscalizada adequadamente. Isso impede que a história seja contada por nós, e não mais pelo olhar colonizador,” afirmou.
A professora, que integra a Rede Nacional de Mulheres Negras no Combate à Violência, faz parte da diretoria do bloco Afropretinhosidade e coordena a Aoca Cultural, comemorou a escolha do tema do Enem e defendeu que questões como essa não devem ser uma exceção, mas sim uma constante na educação. Para Diva, abordar a herança africana e a violência estrutural enfrentada pela população negra é uma reparação histórica e uma necessidade urgente. “Estavam nos devendo um tema que trouxesse a reflexão sobre a contribuição da população negra na formação do povo e do Estado brasileiros,” disse ela.
Ao acertar a previsão do tema da redação, Diva Daiana não só demonstrou seu compromisso com a educação antirracista, como reforçou a importância de uma escola que acolha, respeite e valorize a diversidade, além da necessidade da valorização de docente que tenham compromisso com o antirracismo. Ela encerrou sua fala lembrando de um dado alarmante: “A cada 15 minutos, uma pessoa negra é assassinada no Brasil. Esse é o reflexo da falta de políticas que combatam o racismo de forma estruturada.”
Divulgação
O ministro da Educação, Camilo Santana, divulgou, por meio do X (antigo Twitter), o tema redação do Enem. De acordo com a publicação, os participantes deverão construir uma redação dissertativa-argumentativa sobre “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”.
De acordo com especialistas, o tema deveria ser ressaltado, mas foi inesperado a temática. Outro professor de sociologia afirmou que o tema não era “a grande aposta” de quem acompanha a avaliação. Em contrapartida, Diva Daiana, também professora de Sociologia destacou que é por isso que as escolas devem dar mais espaços a professores comprometidos com a causa étnico-racial. “Pra mim não foi uma grande surpresa, pois já era uma dívida do estado para com o nosso povo”, expressou.
O Ministério da Educação (MEC), por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aplicou o Enem 2024 neste domingo, 3, e no próximo domingo, 10, para mais de 4,3 milhões de participantes, em todos os estados e no Distrito Federal.