Monitoramento identifica espécies raras e ameaçadas de animais no entorno da Ponte de Guaratuba

O programa de monitoramento da fauna exigido no licenciamento ambiental da construção da Ponte de Guaratuba já identificou 18 mil animais. Os dados são contabilizados no relatório do Programa de Fauna do empreendimento e incluem aves, mamíferos, répteis, anfíbios, peixes, macrofauna bentônica (organismos que vivem no fundo de ambientes aquáticos) e crustáceos.
O objetivo do programa é assegurar que o empreendimento seja executado de forma sustentável e que atenda todas as exigências ambientais legais. O trabalho consiste no monitoramento contínuo da biodiversidade local, com atenção especial às espécies sensíveis e ameaçadas.
De acordo com o coordenador ambiental do Consórcio Supervisor Ponte de Guaratuba, Robson Felipe do Valle, um dos resultados mais positivos do programa é a constatação de que há registros recorrentes de espécies sensíveis nas proximidades do empreendimento, o que sugere que os trabalhos ambientais são eficazes. “A presença de espécies como o bugio-ruivo e a lontra em áreas próximas às obras, demonstra a resiliência da fauna local e a efetividade das medidas de gestão ambiental implementadas”, afirma.
“Para o meio ambiente, o maior benefício é a geração de dados atualizados e confiáveis sobre a fauna silvestre local, o que contribui para a conservação da biodiversidade da região. Para a comunidade, o programa fortalece a percepção da importância da proteção ambiental, para a valorização do patrimônio natural local e pode fomentar a educação ambiental e o turismo sustentável, especialmente em áreas de entorno como o Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange e a Baía de Guaratuba”, explica o coordenador ambiental.

Espécies raras e ameaçadas
O Programa de Fauna já registrou algumas espécies de animais considerados raros, como o sapinho-pulga (Brachycephalus sulfuratus), a falsa-coral (Siphlophis pulcher), gavião-pombo-pequeno (Amadonastur lacernulatus) e o papagaio-da-cara-roxa (Amazona brasiliensis).
Durante os monitoramentos, também foram registradas espécies ameaçadas, como a lontra (Lontra longicaudis), gato-maracajá (Leopardus wiedii), raia-viola (Pseudobatos percellens), cavalo-marinho (Hippocampus cf. erectus), tartaruga-verde (Chelonia mydas), maçarico-acanelado (Calidris subruficollis) e figuinha-do-mangue (Conirostrum bicolor).
A ameaçada raia-viola, com formato diferente e que lembra uma viola, atua no revolvimento do sedimento e na circulação dos nutrientes, sendo fundamental para o equilíbrio dos ambientes marinhos e estuarinos.
O gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus), uma imponente águia brasileira, sempre impressiona pela força e beleza. As abelhas-das-orquídeas, além de fascinantes, com suas cores metálicas, são polinizadoras essenciais para plantas nativas. A perereca-marsupial (Fritziana mitus), as fêmeas da espécie carregam os ovos em um tipo de bolsa nas costas, lembrando os marsupiais (gambás, cuícas). E os morcegos, únicos mamíferos que voam, usam a ecolocalização para se orientar e buscar alimento, e ainda são essenciais na polinização.

Legado ambiental
A bióloga do Consórcio Supervisor Ponte de Guaratuba, Aline Prado, acredita que a construção da Ponte de Guaratuba deixa um legado para o estudo e pesquisa ambiental no Litoral do Paraná.
“A Baía de Guaratuba é muito biodiversa e ainda se mantém conservada. A cada campanha que realizamos, novas espécies são registradas, algumas delas até então com pouco conhecimento científico sobre sua biologia, ecologia e estado de conservação. E esse monitoramento tem gerado informações valiosas sobre a ocorrência de algumas espécies. Além disso, com a construção da ponte, o acesso à região será facilitado, o que deve incentivar ainda mais pesquisas sobre a fauna local e a visita à região para avistamento de diversas espécies”, ressalta a bióloga.
“O principal legado da ponte é a implementação de um monitoramento de fauna comprometido com a conservação da biodiversidade local e alinhado às diretrizes do licenciamento ambiental. O monitoramento vem sendo conduzido em conformidade com o que foi estabelecido. Além disso, a atuação da fiscalização e supervisão ambiental tem sido fundamental para garantir que todas as atividades sejam executadas em consonância com as normas e com os objetivos de conservação e proteção da fauna”, enfatiza.

Licenciamento ambiental
As Campanhas de Monitoramento de Fauna seguem as legislações vigentes do licenciamento ambiental, sobretudo a Portaria IAT N.º 12/2024, que estabelece diretrizes para estudos de fauna em processos de licenciamento ambiental no Estado do Paraná.
Para empreendimentos viários, como é o caso da Ponte de Guaratuba, a portaria estabelece primeiramente a execução de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e posteriormente o licenciamento trifásico, que compreende três etapas de monitoramento durante a Licença Prévia, de Instalação e de Operação.
Para a fase de Licença Prévia, ou seja, antes da obra, foram executadas duas campanhas com intervalo trimestral para caracterizar o ambiente e as espécies antes das obras. Após a emissão da Licença de Instalação, são executadas campanhas com intervalos trimestrais durante toda a instalação, totalizando oito campanhas.
Na fase de operação, serão executadas mais oito campanhas com intervalos semestrais, totalizando quatro anos, visando acompanhar a biodiversidade local após a finalização das obras e durante a operação da ponte. Todas as campanhas contemplam as diferentes estações, visando identificar e acompanhar os padrões sazonais das espécies na região.
Após a realização de cada campanha, são elaborados relatórios consolidados contendo as listas de espécies registradas, sobretudo as ameaçadas, raras e endêmicas, bem como os resultados obtidos e análises.
Os documentos são inicialmente submetidos à fiscalização do DER e à supervisão ambiental, a fim de verificar o cumprimento das exigências contratuais, do Termo de Referência, e a conformidade com o que foi estabelecido no PBA (Programa Básico Ambiental), no plano de trabalho e nas condicionantes ambientais. Após essa análise preliminar, os relatórios e respectivos dados são encaminhados ao IAT e ao ICMBio para fins de acompanhamento e parecer técnico.
