Mortandade generalizada
A terra vem sendo sangrada pelas mineradoras. Gigantes corporações com sede noutros cantos do planeta, autorizadas pelas autoridades federais, prospectam o território brasileiro e com suas máquinas em busca de minérios preciosos que são remetidos para fora do país rasgam montanhas sem piedade.
Por impostos singelos e empregos que se assemelham à escravidão branca, milhões de dólares, euros e reais são trocados pelos minerais de ponta e, não se sabe o destino de tamanha receita, pois o povo no entorno dessas minas gigantescas continuam pobres e o índice de desenvolvimento humano, IDH apurado pelas agências internacionais revelam a baixa qualidade de vida.
E sem qualquer pudor, sem fiscalização enérgica as multinacionais fazem o que bem querem, objetivando apenas a extração desses minerais espalhados por Minas Gerais, Amapá, Pará entre outros tantos e tantos lugares. Terras ocupadas por indígenas são violadas e quilombolas expulsos de seus territórios originários para dar lugar a essa devastação ecológica impiedosa. Povos tradicionais ignorados são abandonados ao próprio destino.
A Amazônia e a Mata Atlântica sucumbem às vistas do silêncio perplexo da sociedade que assiste a violência dos tratores, caminhões e esteiras que rodam vinte e quatro horas por dia carregados de pedras. Na costa, o turismo, indústria limpa e geradora de empregos, paulatinamente é substituído por portos exportadores de minérios, poluidores, mecanizados e de elevada concentração financeira.
Obras de infraestruturas necessárias para a proteção ambiental, segurança pública e ordenamento socioeconômico decorrente da exploração dessas minas, são erguidas apenas para exibir vitrine mentirosa de tranquilidade para o povo ingênuo que de boa fé, pensa ser beneficiado pelas multinacionais alienígenas que se espalham pelo país.
A imprensa comprometida com o grande capital internacional faz vistas grossas aos desmandos e ilegalidades pactuadas entre autoridades públicas e os empresários da mineração. Farsas revelando a inverdade da realidade que se apresenta. Audiências públicas arquitetadas sob o comando dos próprios mineradores ludibriam o povo crédulo nas promessas impossíveis e levam na conversa o mais experiente agente de proteção ambiental e órgãos do Ministério Público.
O litoral sul do Espírito Santo há anos é vitimado pela multinacional Samarco, a mesma que agrediu Mariana e provocou estragos inimagináveis no sudeste mineiro e agora nas manchetes é acusada de relaxamento na proteção socioambiental de toda a região. A empresa que matou o rio Doce, cujos dejetos enlameados avançam rio abaixo para a costa capixaba sem que os responsáveis ultimem medidas concretas para estancar de modo célere a tragédia, é palco de teatro tétrico de horror e pânico incontrolável: Ninguém sabe o que fazer… como fazer… A Samarco tem currículo e é velha conhecida em Anchieta.
Concessionária de porto naquela cidade, onde promove beneficiamento de minérios vindo das minas que explora no Estado vizinho, antes embarcá-lo para exportação, a multinacional provoca há anos danos diversos à sociedade local. Durante décadas tem gerado o pó preto que se espalha pelo ar sujando a cidade, as construções, as pessoas, os animais e a flora, provocando com a inalação danos à saúde cujas consequências nocivas já foram comprovadas. E a poluição ambiental provocada pela exploração portuária sem observação das regras de segurança, espantou os cardumes da costa, base da economia de centenas de pescadores artesanais.
O porto de Ubu, na periferia de Anchieta, constantemente é dragado e assim a exploração de pescado vem diminuindo ao longo do tempo, provocando danos sociais e prejuízos financeiros aos pescadores artesanais daquele litoral. A movimentação de dragas levantando o solo arenoso espanta toda vida subaquática da região.
Enfim, a Samarco, que produz o pó preto, que provoca a fuga de cardumes tradicionais da costa sul capixaba, livre, leve e solta para agir sem fiscalização e rigor, escondeu as deficiências de suas barragens de dejetos, na crença que nada viesse acontecer. Arriscou na ineficiência dos que deveriam fiscalizar. E resultou a trágica mortandade generalizada, cujas conseqüências serão apuradas ao longo do tempo…
Roberto J. Pugliese é advogado das Colônias de Pescadores do Espírito Santo.
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