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Pescadores e deputados querem rever mudanças no seguro-defeso

Foto: Campanha Nacional pela Regularização do Território Pesqueiro

Deputados federais vão criar um grupo de trabalho com pescadores para negociar com o governo a revisão do decreto de Temer que restringe as condições para pagamento do seguro-defeso.

Para o Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil (MPP), o decreto 8967, que altera o decreto 8425, desconsidera como a pesca se dá na prática das comunidades pesqueiras.

Publicado em janeiro, o Decreto 8.967/17 proíbe a concessão do seguro onde há alternativas de pesca de espécies não abrangidas pelo defeso. As espécies alternativas ainda serão definidas pelos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente.

Segundo o governo federal, objetivo da medida é racionalizar a concessão do benefício e evitar fraudes. O valor do seguro-desemprego para pescadores artesanais durante o período do defeso (época de reprodução das espécies) é de um salário mínimo (R$ 937).

Proposta

O grupo terá parlamentares e representantes dos pescadores e vai negociar diretamente com a Secretaria de Aquicultura e Pesca, ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

A criação do grupo de trabalho foi proposta pela deputada Janete Capiberibe (PSB-AP), durante a audiência pública realizada no dia 6 para discutir o decreto.

O debate foi realizado pelas comissões de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia; e de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços, a pedido do deputado Silas Câmara (PRB-AM).

Para o deputado Julião Amin (PDT-MA), o decreto apenas evidencia a falta de uma política governamental para os pescadores. “O pescador é um cidadão que foi abandonado, que é tratado com descaso”, declarou.

O secretário de Aquicultura e Pesca, Dayvson Franklin de Souza, reconheceu que o decreto tem problemas e pode ser reformulado. Ele informou que a secretaria foi contra diversos pontos do texto, mas não houve condições políticas para alterar a redação.

O período de transição entre dois governos (Dilma Rousseff e Temer), lembrou ele, afetou o órgão, que primeiro saiu do Ministério da Pesca (extinto em 2015) para o da Agricultura e, em março, foi transferido para o de Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

O debate ficou muito alheio à própria secretaria”, apontou Souza. Ele acrescentou que está aberto para receber o grupo de trabalho e representantes dos pescadores.

Ribeirinhos

Além de atrelar a concessão do seguro-defeso à inexistência de alternativas de pesca, o decreto veda o benefício para índios e pescadores ribeirinhos de subsistência (aqueles que praticam a atividade para fins de consumo doméstico ou escambo sem objetivo de lucro).

Esse ponto foi muito criticado por especialistas e sindicalistas. O presidente do Sindicato dos Armadores de Pesca do Pará e Amapá, Cláudio Botelho, argumentou que o decreto prejudica os pescadores que mais necessitam do benefício social. “Foi um ataque direto ao coração da pesca”, criticou Botelho. Ele condenou ainda o fato de a norma não ter sido discutida previamente com os representantes dos pescadores.

Por sua vez, a economista Maria Angélica de Almeida Correa, que estuda o setor pesqueiro da Região Norte, destacou que haverá dificuldade para identificar as espécies alternativas, que poderão ser exploradas na época do defeso. Segundo ela, 94% dos pescados que chegam em Manaus (AM) vêm de apenas dez espécies, e a renda gerada nem sempre chega a um salário mínimo.

Ainda de acordo com a economista, se houver a exigência de pescar espécies alternativas, fora do circuito comercial e dos hábitos alimentares dos consumidores, essa renda poderá ser ainda menor. “Por que o pescador vai sair de casa para pescar? Não vai ser interessante para ele”, argumentou Maria Angélica.

Campanha Nacional pela Regularização do Território Pesqueiro

Redação do Correio do Litoral com informações do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil e a Agência Câmara Notícias

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