Ponte de Guaratuba aquece economia, atrai mão de obra e afeta mercado imobiliário

A obra da Ponte de Guaratuba emprega, no momento, 415 pessoas, entre equipes administrativas e construtivas. Em outubro, são 134 vagas de trabalho abertas e a previsão é que até o fim do ano 600 pessoas estejam trabalhando na obra de forma direta ou indireta.
Além de oferecer oportunidades para os trabalhadores locais, a obra atraiu diversos profissionais de outros lugares. Um dos trabalhadores da obra é o venezuelano Ricardo Antonio, que está há seis anos no Brasil. Ele conta sua trajetória de trabalho. “Estou trabalhando há oito meses aqui na obra de Guaratuba. Sou armador de ferro e aqui na obra fui muito bem recebido. Acredito que todos somos humanos, não importa a nacionalidade. E fazer parte dessa obra é fazer parte da história de toda a região. O avanço da infraestrutura faz crescer a economia de todo um estado. A obra faz crescer a oportunidade de emprego”, enfatiza.
Natanael Santos Pacheco, de 31 anos, veio do Maranhão para atuar na construção da ponte. “Vim pra cá em abril desse ano, meu trabalho é mexer com ferragem, armação da obra tanto em terra como na parte marítima. É gratificante fazer parte de grandes projetos, e no caso da Ponte de Guaratuba, sabemos que os paranaenses já aguardam a obra há muito tempo”, destaca.
Presença feminina

A engenheira civil de supervisão da obra, Mellina Mota e Castro, de 29 anos, veio de Goiás para trabalhar no empreendimento. Ela atua em Guaratuba desde a fase inicial de desenvolvimento de projeto, em julho de 2023. Mellina relata a satisfação em contribuir para uma obra de grande importância ao Paraná.
“Vim de outro estado e foi possível ter dimensão da obra quando cheguei no Paraná. A maioria das pessoas que eu tive contato demonstravam conhecimento e sua importância para a região litorânea e para o Estado. Para mim, quando decidi aceitar a oportunidade, já era uma obra de engenharia com muita técnica. Quando vi a dimensão da obra para o Estado me senti muito feliz e orgulhosa em fazer parte desse projeto”, ressalta a engenheira civil.
Camila Santos da Silva, de 37 anos, que trabalha como maçariqueira, veio da Bahia e trabalha no canteiro de obras há três meses. “A gente trabalha com corte de metal de chapa. É uma satisfação trabalhar aqui na construção. Muita gente espera essa obra”, afirma.
Carliane Pereira da Cruz é soldadora e mora em Guaratuba há 16 anos, e foi contratada para trabalhar na construção da ponte há quatro meses. “Minha função é da construção civil, sou soldadora, faço soldagem de peças, tudo que é preciso na área de soldar ferragens”, explica.
Vagas de emprego abertas
Atualmente, há 134 vagas de trabalho abertas para funções de ajudante, armador, carpinteiro, greidista, lixador, maçariqueiro, marinheiro auxiliar de convés, montador de andaime, montador de estrutura metálica, montador industrial, pedreiro, sinaleiro e soldador.
Quem tiver interesse em trabalhar nas obras da Ponte de Guaratuba, há três opções para envio ou entrega do currículo:
- O interessado ou interessada pode entregar o documento diretamente no canteiro administrativo, localizado na Rua Nossa Senhora de Lourdes, n.º 298, no Centro de Guaratuba.
- Também pode entregar o currículo na Agência do Trabalhador (Sine Guaratuba), na Rua Dr. Carlos Cavalcante, nº 278, Centro.
- Ou via e-mail para o endereço eletrônico da construtora: [email protected].
Valorização também significa aumento do custo da moradia

Um dos reflexos da obra já é o aumento do valor dos imóveis, tanto para venda quanto para aluguel. É uma boa notícia para investidores, imobiliárias e especuladores, mas um problema para grande parte da população. A valorização dos imóveis, comemorada até pelo Governo do Estado, significa também aumento do custo da moradia.
“Antes mesmo de ser finalizada, a Ponte de Guaratuba tem movimentado a economia do litoral paranaense, impactando significativamente no mercado imobiliário local”, exaltou a Agência Estadual de Notícias (AEN), órgão do governo estadual, no final de setembro. “De acordo com especialistas do setor, a valorização dos imóveis, sejam os já construídos ou os lançamentos, é acompanhada pelo aumento no padrão de novos empreendimentos e na mudança de perfil do público comprador”.
Imobiliárias comemoram
Segundo estimativas da Associação de Corretores de Imóveis de Guaratuba (Associg), o mercado de alto padrão já cresceu cerca de 40% na cidade, mais do que o dobro do registrado em imóveis de padrão médio, com 15%. O número segue uma tendência observada pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) ainda antes do início das obras, que apontava valorização de 20% no mercado imobiliário local.
Alto padrão
O tipo de empreendimento construído na cidade tem mudado. Antes com um perfil de imóveis de baixo e médio padrão, a cidade agora vive um boom com a construção de edifícios de luxo, de alto padrão aquisitivo, com unidades acima de R$ 1,5 milhão, chegando a até R$ 6 milhões em empreendimentos já finalizados.
“Eu vejo lançamentos com quatro suítes e espaços de convivência muito maiores. Antes, as construções visavam apenas a praia, não precisava mais do que isso para entretenimento. Agora existe um conceito de áreas de convivência com um olhar mais especial, de lugares de contemplação, de descanso, não sendo só piscina”, explica Vânia Grossi Fernandes, delegada do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da 6ª Região (Creci-PR) em Guaratuba e presidente da Associg.
O valor do metro quadrado para imóveis desta categoria subiu na comparação entre os períodos pré e pós-pandemia. Em 2019, a média de preço variava de R$ 5 a R$ 6 mil. Hoje, alcança cerca de R$ 10 mil o metro quadrado. “Foi no alto padrão em que tivemos uma evolução significativa, com pessoas com poder aquisitivo maior, como os aposentados, que já têm uma renda estabelecida e que buscam uma melhor qualidade de vida”, afirma Vânia.
Essa valorização dos imóveis tem acontecido, principalmente, em duas regiões de Guaratuba: a central e a de faixa de areia. Hoje são poucos os terrenos à venda nesses locais, e os que ainda não foram comprados tiveram aumento significativo no preço.
“Na região central você até tem terrenos, mas quando vamos pesquisar ele já está permutado com alguma construtora. A tendência é de, mais para frente, começarem a construir um pouco mais afastado”, explica Cleide Areco, vice-presidente da Associação Comercial e Empresarial de Guaratuba (Acig).
Ela é sócia de uma imobiliária em Guaratuba e já pensa em expandir os negócios. “Tenho colegas que têm imobiliária em Caiobá que estão vindo investir em Guaratuba e vice-versa. Hoje minha empresa está só em Guaratuba, mas com a construção da ponte, de repente, poderemos atuar em todo o Litoral”.
O ano todo
Antes mais restrita ao período de temporada, entre os meses de dezembro a fevereiro (ou março, dependendo do Carnaval), a movimentação no Litoral tem crescido durante outras épocas do ano.
De acordo com o setor imobiliário, a chegada de novos empreendimentos ajuda também a solucionar um problema causado pela alta procura: a falta de imóveis para alugar por períodos mais longos, além da temporada, para atender ao público que planeja construir a vida na cidade. Imobiliárias antes especializadas em contratos de aluguel de 30 a 60 dias hoje trabalham com a locação por períodos de seis meses a um ano.
De acordo com Vânia, esse movimento deu-se, sobretudo, durante a pandemia da covid-19. “A gente viu esse crescimento exponencial no período. Muita gente veio para o Litoral durante a pandemia para morar. As pessoas estão optando pelo home office, então elas não se importam se estão em Curitiba ou em grandes centros. Acabam preferindo uma cidade que oferece qualidade de vida melhor, como no Litoral”, afirma.
Outro destaque é a chegada de novas construtoras e incorporadoras, que com os recentes investimentos em infraestrutura apostaram na mudança de perfil de público, o que tem se concretizado.
“Tem chegado investidores e novas incorporadoras, centradas em áreas de maior poder aquisitivo. A cada dia que ando pela cidade me surpreendo com uma placa de uma nova construtora, com a busca sempre pelas áreas centrais e na faixa de areia, não mais que duas quadras”, explica.
Esse movimento de mercado também foi observado pela vice-presidente da Acig. “Tenho acompanhado a chegada de novas construtoras que mostraram esse interesse já enxergando essa mudança, essa transformação que vai ter. Agora que nós vamos entrar no alto padrão. Não tinha esse tipo de empreendimento aqui, não tínhamos essa tendência. Era do baixo para o médio padrão”, complementa Cleide.
Novos prédios
Com o crescimento do mercado imobiliário, o número de prédios em Guaratuba também aumentou. Em 2017, havia 156 edifícios com quatro pavimentos ou mais na cidade. Três anos depois, em 2020, eram 163, crescimento de 4,4%. Já neste ano são 190 prédios, entre concluídos, em execução e aqueles que possuem alvará de construção para início das obras, volume 16% maior quando comparado a 2020 e crescimento de 21% em relação ao total de 2017.
16 pavimentos
O crescimento imobiliário em Guaratuba também contou com mudanças implantadas na revisão do Plano Diretor, em 2023. Ficou permitida a construção de três pavimentos à beira-mar e a beira da Baía de Guaratuba e aumentou significativamente a altura dos prédios em outros setores.
Nas avenidas Paraná, Visconde do Rio Branco e Damião Botelho de Souza, por exemplo, é possível a construção de edifícios de até 16 pavimentos. Antes era permitido, no máximo, 10 andares. “Os construtivos verticais só podem ser feitos na parte central da cidade, que hoje seria na linha da Avenida Paraná e até quatro quadras para a baía e de quatro a seis quadras para faixa da areia da praia, cuidando de toda essa preservação”, detalha Vânia.
A ponte tem previsão de ser entregue em abril de 2026 e sua conclusão também deve movimentar ainda mais a economia da cidade.
Redação do Correio com informações da AEN / Ponte de Guaratuba