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Prefeituras e vereadores recebem ICMBio para discutir Parque Serras do Araçatuba e Quiriri

Estudo para criação de parque nacional abrange áreas naturais das cidades de Guaratuba, Tijucas do Sul, Garuva, Joinville e Campo Alegre
Reunião com o prefeito Maurício Lense e equipe da Prefeitura de Guaratuba | fotos: ICMBio

Entre os dias 9 e 11 de dezembro de 2025, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) realizou rodada de visitas técnicas às prefeituras de Guaratuba e Tijucas do Sul, no Paraná; Campo Alegre e Garuva, em Santa Catarina. 

Os municípios integram a área em análise para a criação do Parque Nacional Serras do Araçatuba e Quiriri. Essa agenda integra a etapa analítica prevista na Portaria MMA/ICMBio nº 1.145/2024, responsável pelo aprofundamento do conhecimento socioambiental e construção de diálogos com a sociedade.

Durante os encontros, o ICMBio apresentou o histórico da proposta, que remonta às primeiras demandas de proteção da área na década de 1990, e expôs os objetivos ecológicos, hídricos e socioeconômicos da iniciativa. Os municípios puderam detalhar seus projetos estratégicos, vocações produtivas e desafios ambientais, numa dinâmica de acolhimento que contribui decisivamente para o refinamento dos estudos e uma futura proposição de limites da UC.

Encontro com Prefeitura de Tijucas do Sul

Segundo os dados apresentados nas prefeituras, a região que está em avaliação compreende 32.695 hectares de remanescentes contínuos de Mata Atlântica, campos de altitude, banhados e nascentes que dão origem a bacias hidrográficas fundamentais, como os rios Cubatão e Negro, responsáveis pelo abastecimento de cidades na região. Os mapas de vegetação, hidrografia e áreas prioritárias para conservação, exibidos nas apresentações técnicas, reforçam a singularidade do território.

Regulação climática

A visita também destacou a presença de espécies endêmicas e ameaçadas, como o mini sapo Brachycephalus quiririensis, entre outras, espécies de anfíbios restritas aos campos altomontanos do Quiriri. Esses organismos são reconhecidos por cientistas como indicadores da saúde dos serviços ecossistêmicos que dá suporte a outras atividades na região, altamente sensíveis às mudanças climáticas — especialmente em cenários de aumento de temperatura e alterações no regime de chuvas.

Os dados apresentados mostram que a proteção dessas áreas contribui para políticas de segurança hídrica, regulação climática, prevenção de desastres e controle de espécies exóticas invasoras, como o Pinus, que tem avançado sobre campos nativos, conforme verificado nas vistorias técnicas conduzidas em novembro. Imagens de campo exibidas durante as reuniões mostram ainda pressões como uso irregular de veículos 4×4, abertura de acessos clandestinos e incêndios – desafios que reforçam a necessidade de ordenamento territorial.

Servidores da Prefeitura de Campo Alegre conhecem projeto

Turismo

Um Parque Nacional torna-se um equipamento público que promove o potencial turístico e econômico associado à região. A área abriga atrativos como os morros do Araçatuba, Quiriri e Monte Crista, além de cachoeiras, travessias e caminhos históricos reconhecidos – incluindo trechos associados ao Peabiru e ao Caminho dos Ambrósios, hoje utilizados por trilheiros e montanhistas. 

Projeções econômicas exibidas aos secretários e secretárias dos municípios indicam que um parque nacional bem estruturado poderá movimentar entre R$ 60 milhões e R$ 129 milhões por ano, impulsionando investimentos para hospedagem, serviços de alimentação, transporte, roteiros turísticos, agroecologia e atividades de base comunitária.

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Durante as visitas, representantes municipais apresentaram seus projetos, como iniciativas de turismo rural, recuperação de nascentes, regularização de trilhas e ordenamento do uso público, além de preocupações relativas a regularização fundiária, Zona de Amortecimento e impactos sobre atividades produtivas. O ICMBio respondeu ponto a ponto, reforçando que nenhuma área urbana ou comunidade consolidada integra o limite preliminar da proposta.

Prefeito Plotino de Bitencourt e equipe recebem ICMBio em Garuva

Segundo Maria Helena, da Coordenação de Criação de Unidades de Conservação do ICMBio, “As prefeituras têm papel central na construção desse estudo. Cada município trouxe elementos históricos, socioeconômicos e territoriais que enriquecem a avaliação de viabilidade. É um processo colaborativo, transparente e orientado por evidências científicas”.

Para Érico Kauano, do ICMBio NGI Curitiba, unidade regional que está apoiando à Coordenação nesse processo, “O Parque Nacional tem potencial para proteger ecossistemas únicos, garantir segurança hídrica para milhares de pessoas e gerar novas oportunidades econômicas, sem afetar áreas residenciais consolidadas. Nosso compromisso é acolher as demandas locais e construir soluções conjuntas”.

Em Garuva, além da reunião na prefeitura, a equipe participou de uma sessão extraordinária da Câmara de Vereadores, marcada por debates sobre governança, fiscalização, valorização turística e integração da proposta com o Plano Diretor Municipal.

Vereadores de Garuva também conheceram estudos e dialogaram com equipe do ICMBio

Joinville

Além das visitas aos municípios, o ICMBio recebeu em Brasília representantes da Prefeitura de Joinville e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de Santa Catarina, ampliando o diálogo federativo sobre as oportunidades e desafios da proposta. Dias antes, o Instituto também esteve reunido com o Secretário de Meio Ambiente do Paraná, Rafael Creca, que manifestou apoio institucional à continuidade dos estudos.

O ICMBio reforça que esta fase analítica é não deliberativa e que os estudos prosseguirão nos próximos meses, incorporando contribuições das prefeituras, de comunidades locais, de pesquisadores e de diversos setores interessados. As próximas etapas incluem novas reuniões setoriais e, posteriormente, a realização de Consultas Públicas nos municípios abrangidos.

Sobre o Parque Nacional Serras do Araçatuba e Quiriri

A região objeto do estudo apresenta ecossistemas únicos, incluindo campos de altitude, florestas ombrófilas densas, banhados e nascentes que alimentam os municípios da região. O território reúne atrativos naturais de grande relevância cênica — no Araçatuba, Quiriri e Monte Crista — e trilhas de longo curso históricas, incluindo trechos associados aos Caminhos do Peabiru e dos Ambrósios, equipamentos públicos de conexão e interação com a natureza.

Área de Estudo do Parque Nacional. Detalhe: comunidades, residências e áreas consolidadas não serão afetadas.

Fonte: ICMBio

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