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Venha viver o Nhanderekó Mbyá Guarani na aldeia Kuaray Haxa

O nhanderekó é onde a vida está e é relacionado com todos: com o corpo, com o espaço, com a parte do ambiente. Nhanderekó Mbyá Guarani, também pode ser traduzido como o “jeito Mbyá Guarani de ser”.

A comunidade da aldeia indígena Kuaray Haxa, no limite de Antonina e Guaraqueçaba, promove uma oportunidade de visitação neste mês de setembro. É a segunda vivência para não indígenas, depois de uma experiência bem sucedida no mês de março.

A visita acontece no último domingo do mês, dia 24, das 10h às 19h. Como diz a divulgação e testemunhos comprovam, “será uma experiência que pode transformar a sua vida e ainda vai ajudar a comunidade”. 

Durante o dia, os participantes vão vivenciar os costumes tradicionais, rezos de fortalecimento e conhecimentos ancestrais. Também terá passeio, oficinas de artesanato, almoço e jantar. O valor é de R$ 250,00 por pessoa e as vagas são limitadas. Quem puder, também deve levar alimentos não perecíveis e produtos de higiene.

🔸 Data: 

24 de setembro (domingo)

🔸 Programação

10h – Chegada

11h – Recepção de abertura com Canto Tradicional Guarani 

12h às 13h30  – Almoço com Comida Típica

14h – Caminhada até a cachoeira e Meditação

14h30 – Oficina de Colaria | Artesanato Indígena

15h30 às 16h30  – Jantar com Comida Típica (costume Mbyá Guarani de jantar antes do anoitecer)

17h30 às 19h –  Cerimônia na Casa de Reza em um Ritual de Fortalecimento Espiritual com ervas tradicionais, cantos e rezas. 

Valor de contribuição para participar:

R$250,00 (por pessoa) pagamento via PIX

Faça sua inscrição aqui👉  https://api.whatsapp.com/send?phone=5541997204914

Vagas limitadas.

💚 Faça também doações de alimentos não perecíveis e produtos de higiene para a comunidade. 

📍 Local: 

Tekoha Kuaray Haxa: Estrada de Guaraqueçaba (PR-405), Km 16

A história verdadeira

Na divulgação da visita anterior, Eliane Castro, uma das lideranças da aldeia, disse ao Correio do Litoral, que a comunidade já pretendia promover outras visitações. “Ao atrair não indígenas para conhecer nossa cultura, como é a nossa realidade, a gente atrai o respeito, a compreensão e o apoio dos não indígenas à nossa luta”, disse, na ocasião.

“Muitos brasileiros pensam que os indígenas são só lá do Alto Xingu, da Amazônia. Não sabem que em todo o Brasil existem povos indígenas, no Paraná, aqui no Litoral”, comentou. “Quando têm estas oportunidades de visitas, não só na minha aldeia, mas também em outras aldeias, é importante que as pessoas aproveitem para conhecer a realidade de cada povo, de cada etnia”. 

Eliane Castro também contou que a comunidade quer promover visitação de escolas, para as crianças jovens conhecerem a realidade dos indígenas, a história verdadeira do Brasil.

Luta pela terra X marco temporal

Tekoha (ou tekoa = aldeia) Kuaray Haxa fica às margens da PR-405, nos limites dos municípios de Guaraqueçaba e Antonina. Foi criada em março de 2012, quando um grupo que vivia na aldeia Palmeirinha, no município de Mangueirinha, na região Sudoeste do Paraná, deixou o local, onde conviviam com indígenas da etnia Kaingang, que era dominante. Buscavam seu próprio tekoha, que pode ser traduzido como aldeia, mas também como “lugar onde se vive segundo seus costumes e leis”, ou “o lugar onde somos o que somos”.

O grupo ocupou as terras antes de o Governo Federal decretar a criação da Reserva Biológica Bom Jesus Rebio, em terras sobrepostas à aldeia. Os técnicos do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) que fizeram a delimitação dos 34.179 hectares da Rebio afirmam que os indígenas não estavam no local durante o levantamento da área.

Em novembro de 2014, com o apoio do Ministério Público Federal (MPF) e da Funai – atual Fundação Nacional dos Povos Indígenas –, a comunidade, liderada pelo cacique Verá (Rivelino), conseguiu que a Justiça Federal decidisse pela permanência da aldeia na área. 

Os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) reconheceram que a presença da comunidade não traria prejuízo à unidade de conservação. Até agora não houve sentença definitiva no processo e a situação pode melhorar ou piorar dependendo da decisão sobre o chamado marco temporal.

Marco temporal é uma tese segundo a qual os povos indígenas têm direito de ocupar apenas as terras que ocupavam ou já disputavam em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição. É defendida por pessoas que invadiram terras indígenas, que têm terras superpostas a terras indígenas e tem apoio de políticos de direita e da bancada ruralista.

Uma campanha de fake news também buscou apoio da sociedade com informações falsas sobre risco de criação de novas terras indígenas em cidades e outras mentiras. Leia reportagem sobre o assunto na revista Piauí.

No momento, há a votação favorável de um projeto de lei que cria o marco pela Câmara dos Deputados que ainda terá de passar pelo Senado. Ao mesmo tempo, o Supremo Tribunal Federal discute se a tese está de acordo com a Constituição, se é constitucional. Já são 4 votos contra o marco temporal e 2 a favor. Faltam votar cinco ministros e a votação será retomada na próxima semana.

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